Poemas do autor

Velho

A cada dia que se passa
Vou ficando mais cansado
Velho, feio e enrugado
Passando as tardes sentando no banco da praça

Meus cabelos estão velhos
Minha cabeça careca de pés tremidos no chão
Tomando até remédio de pressão

Meus dias estão contados
Vem chegando minha morte
Mas quem sabe me salve a sorte


Márcia

Em tuas garras
A todo o momento
O seu cheiro exalta
Porque trás o vento
Em tuas graças
És tu cheia de polidez
Porque foi assim que Deus te fez
Explicito foi o beijo
Que de ti almejei
Inolvidável quando eu acordei
Estava eu sonhando
Nos teus lindos “uns braços”
Você cantava
Por mim apaixonada
É... Não mentem as cartas
Nas garras de umas gatas
Atraquei-me quando sonhei
Que engraçado
Fiz isto quando te almejei
Então eu vou
Para o meu finito
Pegar quem sabe o meu trem
E minha mala também
Eu nem diria ser isto um dom
Mas quem sabe uma prática
Para quem sabe algum tom
Enfim...
Estou indo atracado
Nestes teus lindos “uns braços”
Nestas tuas Balizas garras
É você dentre estas utópicas gatas
Aqui no meu finito
No meu mundo distinto
É apenas Márcia
Nas sombras das Acácias

O rio corola

O rio passa
Do outro lado da ponte
O rio deságua
Lá onde o seu afluente se esconde
O rio vasa
Pelos caminhos terrestres
Na aurora
Quando nada ainda se mexe
O rio corola
Passa na rua onde eu moro

Drogado

Nunca eu pensei
E até hoje
Foi o primeiro dia que me alegrei

Porque hoje eu transformei
O amor em pesadelo
E flor em mau cheiro

Tive até a sensação de por um momento
Está em terra santa
Agora eu sei
Estou ainda drogado
Caminhado e mancando

É... Hoje eu transformei tudo no achaque
Que sensação infernal

Mas ainda me sinto sob este meado feliz
Ainda neste momento crucial
Isso foi tudo que eu fiz

Já disse adeus

Já disse adeus
Para várias coisas
Para muitas paixões
Vários amores
E emoções

Já tentei esquecer
Que amo você
Já tentei parar
De tentar te querer

Já tentei dizer-te adeus
Mas é impossível
Neste momento sensível
Esquecer os olhos seus

Já até fiz chorar
Meu coração
Para tentar te conquistar.
Mas o que eu faço
Para tentar te beijar?

Menina...
Esqueço o tempo e o destino
Esqueço a distância e a hora
Mas não esqueço sua analogia amorosa

Para você não digo adeus
Mas para muitas coisas supérfluas
Só você que não consigo
Esquecer os olhos seus



Meus avós

Meu avô se senta na cadeira
Fala sobre coisas antigas
Quando ainda estudava sentado na carteira
E começa a falar sobre sua vida

Fala quando trabalhava no desterro
Tinha o cargo de fiscal
Ganhava o seu salário em cruzeiro
E nesse tempo ele era o tal

Fala quando ia ao cinema
Acompanhado de sua mulher
Quando ainda escrevia poema
E visitava o cabaré

Lembra quando morava em Guimarães
Lembra das suas irmãs
Quando jogava bola...
Gritava: olha o gol... No campinho
Hoje só fala baixinho

Lembra-se do seu pai José
Homem sério e comunista
Da sua mãe Joaquina
Mulher calma e tranquila

Hoje meu avô anda com o seu rádio para lá e para cá
Não perde um jogo do moto clube
Entretanto quase não consegue respirar

Vejo netos que desprezam o seu avô
E não gostam deles tagarelar
E isso me dar uma dor
Pois eu aprecio...
Quando o meu tem uma história para contar

Se eu chegar nessa idade
E conversar com o meu neto
Lembrar-me-ei da minha mocidade
Contarei a minha história
Que no meu tempo já não existia palmatória

No tempo do meu avô... Esse era tempo bom
Viveram grandes romancistas
Hoje... Apenas humoristas
Viveram grandes escritores
Enquanto hoje... Apenas inspiradores

E como dizia meu avô...
Bem aventurados os que gostam dos seus avós
E não se incomodam com a sua velhice
Bem aventurados aqueles que gostam de seus netos
E não se incomodam com as suas tolices

Fiama

Olhos pretos e maquiados
Vestes de futuras bípedes
Pensamentos asnos dos próprios fatos

Emotiva nas expressões faciais
Do racismo, vem o receio
Dos povos de antigamente
Malvados, brutos e comunistas loucamente

Caminhando em antigos vilarejos
Hoje em túmulos achatados
Leva o amor com almejos
Escondidos em seus segredos procurados

Ela, Fiama
Leva consigo a vontade ardente
De ficar com o cara que ela ama

Vida Sagaz

Até ser moleque
tinha o sonho de voar
quando Dumont!
Levou o “14 bis” ao ar

Quando jovem
Almejei ser rei do rock
Mas Presley
Pôr de parte o pop

Então, já adulto
Queria ser um astro pop star
E Michael, só me deixou a desejar

Fui crescendo, crescendo e crescendo
cheguei aos 40
plantei batata
que praga!
As pragas me tiraram essa graça

Fiquei velho
queria só descansar
mas H1N1 queria me matar

Já doente e ''enganado'' por pouco tempo
quase morrendo!
Sonhei um sonho possível
de morrer em paz
deixar essa vida sagaz!

M a r i a

Maria das Dores
Mão de calos e pés descalços
mãe quebradeira de coco
Mas uma alegria estampa seu rosto

Maria dos Remédios
Mãe de muitos filhos rebeldes
Feição cansada e de pele queimada
Ainda anda bem arrumada

Maria da Silva
Ainda lembra a mocidade
De manhã cedinho passando café
Senti saudade... Até do Pelé

Maria do Rosário
Sentada, no crepúsculo, jogando baralho
Conta piada antiga
Dos tempos que se escrevia cartilha

Maria Raimunda
Senhora de muito netos
Vende na feira arruda
Agora... Já anda meio surda

Maria Brandão
Mãe do prefeito da cidade
Tem por ele uma paixão
Desde os tempos de sua pouca idade

Maria da Conceição
Senhora de poucos dentes
E com problemas de coração
Não recebe visita nem de parentes

Maria do Brasil
Maria Brasileira
Onde já se viu?
Tanta Maria guerreira

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