quinta-feira, 2 de outubro de 2014

MARIA ARAGÃO

Maria José Camargo Aragão, ou simplesmente, Maria Aragão, foi uma médica maranhense nascida em 1910 e falecida em 1991.

Uma mulher, pobre e negra que enfrentou os poderosos do Maranhão na defesa da população mais sofrida.

Formou-se em medicina no Rio de Janeiro, onde especializou-se no ramo da ginecologia. Engajada com as questões sociais, tornou-se diretora do jornal Tribuna do Povo, um dos únicos jornais de São Luís que denunciavam os problemas enfrentados pelos operários das fábricas da capital.





Ainda lembro da visita que fizemos a Maria Aragão, eu levado por meus pais, Simone e Roberto Macieira, para visitar minha avó que estava presa no antigo quartel da PM, onde funciona hoje o Convento das Mercês. Ainda criança, não compreendia com profundidade os horrores do cárcere, nem aquela imagem de prisão associada à força que se traduzia em Maria Aragão, médica maranhense e militante política por um mundo mais solidário e justo. E menos ainda os motivos da prisão, quando o Brasil ainda sofria as atrocidades do Regime Militar.

Não deve ter sido obra do acaso que, após sucessivas prisões, algumas com torturas e outras agressões físicas e morais, ela foi solta pela última vez em 8 de março de 1978. Das efemérides, o Dia Internacional da Mulher é a data que simboliza com mais relevo a história das lutas por direitos trabalhistas. Toda a trajetória de Maria José Camargo Aragão é a síntese de uma vida de mulher trabalhadora, generosa e forte, cuja dedicação apaixonada ao sacerdócio da Medicina a converteu em devota das doutrinas que combatem os males sociais. Para obter a profissão de médica, cursando a antiga Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro, dava aulas particulares, chegando a adoecer, pois só dormia três horas por dia.

Formada em Medicina, vai trabalhar no Rio Grande do Sul, sofrendo o preconceito por ser mãe solteira de uma menina. Já na militância comunista pelo interior do Estado, era perseguida e injuriada, chamada de “besta fera” pelos padres, que mandavam dobrar os sinos no badalar do dia de finados, quando sabiam de sua presença nos municípios. Na riqueza de episódios marcantes de sua existência, Maria Aragão foi a voz que não se calou diante das arbitrariedades, foi exemplo de uma alegre irreverência, obediente apenas aos seus sonhos e convicções de um mundo melhor.

A mulher que ajudou a criar e educar a minha mãe deixou um legado que se estende nas carreiras profissionais dos herdeiros de sua luta contra as injustiças. Não é demais reforçar a ideia de que os direitos constitucionais conquistados pelas mulheres em suas lutas são direitos fundamentais, integram o núcleo dos princípios pelos quais tantos defensores de Direitos Humanos estão engajados. Tenho orgulho de guiar meus passos, como profissional e como cidadão, na defesa dos mesmos direitos humanos aos quais, tão generosamente, Maria dedicou sua vida. Considero que meu engajamento na defesa dos direitos dos trabalhadores, como advogado de sindicatos, dos direitos humanos, da democracia e da dignidade humana, como valores universais, minha atuação como conselheiro da OAB-MA e minha crítica cotidiana às desigualdades perturbadoras, que brutalizam a sociedade brasileira, representam a influência de Maria Aragão em minha visão de mundo. À qual se aliam meus princípios, construídos num ambiente familiar ao mesmo tempo plural e ético.

O Dia Internacional da Mulher relembra o sacrifício de tantas mulheres, na luta por igualdade, trabalho, vida digna, por um mundo mais justo e uma sociedade fraterna – generosa utopia que se alimenta de esperança. São ideais que encontram ressonância quando releio agora “Os Miseráveis”, de Victor Hugo, um grito contra as misérias e as injustiças, reafirmando a necessidade da luta pelos direitos humanos. Neste dia 08 de março, evoco o exemplo de Maria Aragão e experimento a certeza de que os revolucionários de todos os tempos têm em comum um forte sentimento de indignação quanto ao presente, uma grande esperança nos seres humanos e uma firme crença em um futuro melhor. Ao dedicar sua vida em defesa da justiça social e dos direitos humanos, Maria Aragão lutou também pelos direitos da mulher. Da lembrança emocionada desta história de coragem faço a minha homenagem a todas as mulheres do Maranhão.
Acima a praça Maria Aragão  localizada em São Luís, em homenagem à Maria Aragão
Mário Macieira é advogado, conselheiro da OAB-MA desde 2003 e professor universitário com Mestrado pela UFPE.
fonte: http://www.itevaldo.com/2009/03/a-maria-aragao-de-cada-mulher-do-maranhao/

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